Leica Ia - 1929

Esta foi a primeira restauração que realizamos. A câmera foi adquirida em uma loja especializada em equipamentos antigos em São Paulo.

Nunca havia manuseado uma Leica antes, mas, conhecendo sua reputação, segui meu instinto e a comprei, considerando que seu estado parecia razoável para a idade.

Na loja, ensinaram-me a colocar um filme, o que já foi um desafio, mas fiquei surpreso ao saber que o padrão atual ainda é compatível com essa câmera. Depois, entendi que foi esta Leica que estabeleceu esse padrão, o qual perdura há um século.

Levamos a câmera ao Parque Ibirapuera, onde tirei algumas fotos com sua lente Elmar fixa, que não pode ser trocada. As imagens saíram um pouco ruins, e então comecei a identificar os motivos: lente suja, mecanismos internos lentos devido ao óleo envelhecido, chassi levemente torto e outras pequenas falhas.

Decidi que a "cirurgia" era necessária e resolvi abrir o monstro. Desmontei os minúsculos parafusos enferrujados com a coragem de quem desconhece a complexidade do que está prestes a enfrentar.

Foi uma semana cheia de descobertas sobre seu funcionamento, sua história e sobre os milhares de admiradores da marca Leica. E não posso deixar de mencionar seu venerado projetista Oskar Barnack, cuja genialidade é amplamente reconhecida e admirada.

Durante os primeiros anos de produção, as câmeras eram revestidas com uma laca preta. Embora a tinta utilizada fosse de boa qualidade, o desgaste natural ao longo dos anos fazia com que a pintura se deteriorasse, expondo o latão em alguns pontos. No caso desta câmera, a pintura estava extremamente desgastada pelo uso. Decidi, então, remover toda a tinta e, em vez de repintar, optei por envernizar apenas a superfície polida. Sob a perspectiva da preservação, essa escolha pode ser considerada uma heresia; no entanto, acredito que o resultado final ficou bonito e único.

Chegou a hora de trabalhar então na lente, a lendária Elmar de 50mm com abertura f/3.5, projetada por Max Berek. A desmontagem da lente não foi tão difícil, pois há uma abundância de informações disponíveis na internet. Após limpar o "vidro", destrancar o diafragma e lubrificar o mecanismo de foco, percebi uma grande melhoria no desempenho da lente, que passou a capturar imagens com sua indelével e apreciada estética vintage. Embora a Leica Ia não permita a troca de lentes, essa ótica foi um fator fundamental para o sucesso da câmera. As fotos tiradas pela câmera estão aqui.

Após reparar o chassi que estava levemente fora de esquadro e limpar o óleo envelhecido, as velocidades começaram a se comportar de maneira consistente. No entanto, a questão permanecia: como medir essas velocidades? Os métodos tradicionais de medição de velocidade são frequentemente imprecisos e complicados de usar.

Decidimos, então, desenvolver um medidor de velocidade baseado em fotodetectores posicionados no início e no fim do percurso das cortinas do obturador, o famoso Obturador de Plano Focal, um mecanismo refinado por Barnack. O dispositivo utiliza um osciloscópio para medir os tempos do obturador com altíssima precisão, permitindo ajustar o sistema que depende de molas e mecanismos de relojoaria para determinar as velocidades de exposição.

Este dispositivo foi a base para o desenvolvimento posterior de outros mais universais, para qualquer tipo de câmera.

Quando tudo parecia pronto para iniciar os testes com filme, uma surpresa desagradável ocorreu: uma das fitas que puxam as cortinas estava rasgando. O desânimo tomou conta, pois pensei que isso poderia ser o fim da câmera. No entanto, após algumas pesquisas, percebi que o problema era curável. Sabia que uma cirurgia mais profunda e meticulosa seria necessária. A fita, de tamanho muito específico, só poderia ser encontrada no Japão.

A busca por uma solução mais rápida começou em casa, contando com a ajuda da minha esposa. Finalmente, encontramos a solução em um vestido: uma fita de cetim perfeita, resistente e do tamanho ideal. Com bastante trabalho e dedicação, consegui realizar o reparo. O resultado final foi excepcional, e a câmera funciona perfeitamente até hoje.

Reparos Realizados

Esta câmera foi restaurada pela Magus e constou dos seguintes reparos:

-   Realinhamento do chassi e reparo de amassados

-   Retirada de toda tinta antiga e pintura com verniz novo

-   Limpeza de todo óleo velho

-   Lubrificação geral

-   Troca de fitas da cortina

-   Recolagem da cobertura de Vulcanite

-   Limpeza de lente e visor

-   Troca do espelho do Range Finder

-   Ajuste de velocidades com dispositivo de medida de tempos e osciloscópio

Resultados

Nota antes da restauração: 4 - Sofrível

Nota depois da restauração: 7 – Bom, sem defeitos funcionais

Tempo total de restauração: 50 horas

Data fim da restauração: 8/10/2022

Certificado de Avaliação de Estado

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Manuais de usuário e Manutenção

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Fotos de Teste

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Leica I Standard